[A Voz aos Leitores] E se houvesse uma alternativa ao Festival da Canção?


A presença de Portugal no Festival Eurovisão da Canção 2017 parece estar mais do que confirmada e mais uma vez o Festival RTP da Canção será muito provavelmente o nosso processo de seleção para o cantor e para a canção que irão levar a nossa bandeira até à Ucrânia.

Mas, fechemos os olhos e sonhemos: Portugal decide mudar o modelo de seleção! Todos sabemos como é visto o nosso Festival pela Europa fora: fora de moda, antiquado, demasiado simples. Comparando com os processos seletivos dos outros países participantes, sendo eu um seguidor de mais de metade deles, posso afirmar que não estamos no caminho certo. Estamos a escolher uma música para nos representar no maior palco de música europeia, o maior espetáculo televisivo de sempre... será que temos todos essa noção? O Melodifestivalen, a seleção sueca, é um verdadeiro evento anual, o país pára para ver, ouvir e vibrar com os cantores. O Melodi Grand Prix, da Noruega, apesar de se resumir a uma noite de música, ao contrário do Melfest que dura semanas, é um marco no ano norueguês. Aqui em Portugal, mal sabemos quando é que a RTP vai transmitir a emissão, até podemos ouvir falar um pouco no café da esquina, mas não passam de comentários negativos, a dizer que o Festival já não é o que era.

Mas se o nosso emblemático Festival da Canção já não é o que era, o que se passou? O que mudou? Os pontos fracos do Festival da Canção passa pelo facto da RTP limitar o acesso a compositores convidados,  ao peso do televoto, à pouca divulgação, ao anonimato dos artistas e ao facto da RTP querer sempre ter um festival caseiro, dentro de estúdios de tv e/ou locais muito pequenos.

Vamos observar estes pontos um a um. O convite aos compositores foi um assunto bastante debatido, relembrando que, em 2015, quando soube que Adelaide Ferreira e Sara Tavares foram convidadas, as minhas expectativas cresceram bastante, mas estas mesmas voltaram a zero quando ouvi a qualidade das respectivas canção. Não teremos, em Portugal, artistas e compositores com capacidade de fazer algo muito bom? Basta ouvir o novo álbum de Leonor Andrade e ouvimos que a qualidade de mais de metade das faixas é superior à canção que a própria levou ao certame europeu (que eu não desgosto, de todo). A abertura de uma plataforma digital para que a RTP ouvisse o que os portugueses podem fazer não seria má ideia, como se faz em muitos dos países participantes, países que têm bastante sucesso.

O segundo ponto negativo é o peso do televoto. Em 2014, Suzy e Emanuel foram acusados de receberem demasiados votos, o que poderá até ser normal, devido ao número fãs que o cantor português tem. Se o Tony Carreira cantar uma balada que poderia vencer o certame de 1966, em 2017, claro que tem muitas hipóteses de ser o vencedor, devido ao peso do televoto. Se em 2014 tivesse existido um painel de jurados, quer regionais, quer de sala, o resultado poderia ter sido diferente e Catarina Pereira poderia levar aquela que foi considerada por muitos eurofãs a melhor canção que Portugal já teve num festival da canção.

Terceiro ponto: a divulgação. Soubemos, com meses de antecedência, quando ia começar o The Voice Portugal, mas a uma semana de começar o Festival da Canção 2015, só os verdadeiros seguidores é que sabiam os horários e as datas. Uns cartazes espalhados pelo país, uma bela publicidade na televisão, uns artigos nos jornais, uns mini-diários em horário nobre, bastava para dar a conhecer mais o certame... sem grandes custos mas maior impacto.

O anonimato dos artistas também não ajuda em nada à publicidade. Apesar de apoiar o concurso aberto a todos, claro que é conveniente termos alguns nomes bem conhecidos no festival. A publicidade também pode ser influenciada pelo local escolhido para a realização do festival. Se for nos estúdios da RTP, sabemos que vai ser um palco de tamanho reduzido, pouca cor, façam o contraste em 2014 e 2015. Até em resultados podemos comparar, 11º e 14º lugar na semifinal, respetivamente. O local deve ser um local com espaço para as pessoas assistirem, não podemos esquecer que os eurofãs, atrás dos ecrãs também acompanham a festa da música portuguesa e apreciam o facto de verem uma sala bem cheia.

Assim, podemos começar a estruturar uma nova seleção, com novas bases, novas ideias, mudanças nas semifinais, como a reintrodução da semifinal online e continuando, tornando o nosso Festival RTP da Canção 2017, um dos melhores de sempre.

Portugal tem os meios, falta a vontade, sem vontade, não vamos a lado nenhum.

Por: Hélder Simões


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Fonte: ARTIGO DE OPINIÃO / Imagem: RTP 

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